“Se você escreve, ou pinta, ou faz sermões na igreja, ou toca música, ou monta a cavalo, ou tira fotos, ou faz qualquer outra coisa que pareça interessante, já deve ter ouvido mil vezes a pergunta: “Você faz isso por dinheiro ou por prazer?” Tão infinitamente repetível é essa fórmula, que deve revelar algum traço profundo e permanente do modo brasileiro de ver as coisas — um lugar-comum ou topos da nossa retórica diária. Ora, todo lugar-comum é um recorte que enfatiza certos aspectos da realidade para momentaneamente dar a impressão de que os outros não existem. Logo, para compreendê-lo é preciso perguntar, antes de tudo, o que é que omite. O que está omitido na pergunta acima é a possibilidade de que alguém se dedique de todo o coração a alguma coisa sem ser por necessidade econômica nem por prazer — ou, pior ainda, que continue se dedicando a ela como se fosse a coisa mais importante do mundo mesmo quando só dá prejuízo e dor de cabeça. O que está omitido nessa pergunta — e no modo brasileiro de ver as coisas — é aquilo que se chama vocação”. (CARVALHO, 2013, p. 44)
Quando comecei a desenhar durante a adolescência, nunca visei dinheiro. Hoje, minha profissão é Design Gráfico.
Depois de um tempo, vendo uma extrema necessidade de adequar a Música Litúrgica às orientações da Santa Igreja, resolvi comprar um teclado com o FGTS emergencial. Meses depois, comprei um curso online e com 120 dias já estava tocando as músicas de acordo com o repertório da Missa Tridentina. Acabando ela aqui na cidade, não deixei o meu objetivo morrer junto e parti para a Missa Nova, na qual ganhei espaço e estou até hoje servindo sem querer de Deus nada em troca.
Se eu fosse me apegar a grupinhos, perderia não apenas a minha vocação, mas a autonomia de meu ser e de toda a minha existência que construí com acertos e erros quando muitos nem me conheciam. Quando nos condicionamos à mentalidade grupal, perdemos a nossa essência e nos decepcionamos com muita facilidade.
Existem grupos que não vem para acrescentar, mas para nos ensinar a não nos igualarmos nem nos condicionarmos a eles.
Só se vence com autonomia de si e busca constante de fazer a vontade de Deus. O resto é entulho cujo lugar é a lata do lixo.
Agradeço o ensinamento ao Olavo de Carvalho, que foi achincalhado por todos os grupinhos, mas, mesmo assim, permaneceu de pé, cumpriu sua missão e partiu em paz de espírito.
Fonte:
CARVALHO, Olavo de. O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota. Rio de Janeiro – São Paulo: Editora Record, 2013, p. 44.