Há 326 anos morreu aquele que a partir 2003 passou a ser considerado como o símbolo da resistência negra contra a opressão dos senhores de escravos. Zumbi foi quem assumiu o comando do Quilombo dos Palmares após o assassinato do seu tio, Ganga Zumba. Antes de ser assassinato, Ganga Zumba havia feito um acordo de paz com o governador de Pernambuco, o que foi visto como traição por alguns quilombolas.
Por mais que muitos vejam com um certo desdém o livro do Leandro Narloch que trata, de certo modo, em uma linguagem informal da história dos Palmares, ele citou fontes que endossam suas conclusões, e só disse verdades. Zumbi não era bonzinho como a historiografia “oficial” dos livros do MEC afirmam. Ele também tinha escravos, que nada mais eram que camponeses ou outros escravos que eram capturados de outras localidades e eram forçados a permanecer nos quilombos.
A Professora Silvia Hunold Lara, do Departamento de História da UNICAMP, teve acesso a uma crônica anônima que foi escrita em 1678 após o acordo entre Ganga Zumba e o Governador de Pernambuco, na qual há relatos de que o Governador viajou à Portugal e apresentou seus feitos sobre o referido acordo.
Além disso, Lara teve acesso a outros documentos originais da época e informou que alguns deles não foram publicados, além das fontes impressas que serviram de base para alguns historiadores, mas que, ao serem comparadas com os originais, apresentaram inconsistências. Como se pode observar, o trabalho de um historiador não se limita à uma leitura ideológica e anacrônica, mas à checagem e comparação de documentos e manuscritos de época a fim de se chegar a uma leitura mais próxima do desenrolar dos fatos.
Uma inconsistência encontrada por Lara foi o uso do nome “quilombo” em vez de “mocambo”, sendo esse último o correto, pois o primeiro está ligado aos acampamentos de guerra de grupos nômades localizados em Imbangala, na África Central. O termo “mocambo” quer dizer “assentamento de fugitivos” o que estaria mais de acordo com a realidade de Palmares.
Outro ponto destacado por Lara é que a maioria dos historiadores centram numa história militante em que a figura de Zumbi é enaltecida como símbolo de resistência, mas nada sobre os acordos de paz foram publicados na relação de documentos sobre Palmares.
Lara aponta que após o acordo com o Governador de Pernambuco, houve uma mudança dos mocambos para uma localidade chamada Cucaú e a partir de então eles foram considerados livres. 2 anos depois, uma parte dos mocambos liderados por Zumbi rejeitaram o acordo e resolveram ficar em Palmares. Dentro dos conflitos gerados, Ganga Zumba foi assassinado e Cucaú foi destruída. As pessoas que lá moravam voltaram à condição de escravas.
O que percebi, tanto dos relatos citados no livro do Narloch, quanto das pesquisas documentais de Lara é que Zumbi foi o responsável por fazer as pessoas voltarem à condição de escravas. Ficam os seguintes questionamentos: Por que Zumbi foi contra o acordo de paz que seu tio havia feito com o Governador de Pernambuco? Por que Ganga Zumba foi visto como traidor por parte de alguns mocambos? Um povo realmente livre é obrigado a permanecer em um local preso e isolado dos demais povos que consideram diferentes? Em um país de cultura plural, estamos impedidos, pela nossa cor ou alguma outra característica peculiar de termos contato com essa diversidade? Estas são questões que deixo à reflexão de todos!
Que Deus os abençoe, e até a próxima!
Fontes:
JONES, Frances. História de Palmares ganha nova cronologia com análise de fontes originais. Disponível em: <https://agencia.fapesp.br/historia-de-palmares-ganha-nova-cronologia-com-analise-de-fontes-originais/17644/>. Acesso em: 16 nov. 2021.
NARLOCH, Leandro. Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil. São Paulo: Editora Leya, 2009. Disponível em: <http://www.petecd.ufv.br/wp-content/uploads/Guia-politicamente-incorreto-da-hist%C3%B3ria-do-Brasil.pdf>. Acesso em: 16 nov. 2021.